segunda-feira, 27 de março de 2017

Para Alice e Irene

As transcrições dessas vidas
serão contadas em alegorias
Meados do sec. XX
as vidas lhes paria

Aos dez
Acorda pra cuspir
É tanto batente que nunca vi
Com dezoito
Corre pra não desisti
São quatro da matina
tem roupa pra ser lavada
cama que virou armário
Café pra cambada
Não esquece de levar a garotada

Busão lotado
Trânsito parado
E ainda vai ser julgada
 - Por que o atraso das crianças de novo?

Outra condução
duas jornadas
A vizinha ficou doente
E agora? Quem pega os miúdos na escola?
Sai mais cedo
"Bom é o jeito."
Patrão não gosta
 - Outra vez? Não reclama do desconto mês que vêm.

Chega no lar
Comida pra cozinhar,
dever de casa pra ajudar,
Louça que ficou
Chão sujo que sobrou
E as brigas da meninada que só faz gritar

Carlos escondeu brinquedo de Dora,
que comeu lanche de Lia, que bateu em Lea,
que assustou Paulo, que mordeu Juca,
que empurrou Carlos

Isso tudo uns 50 anos já se tem
É! A vida foi corrida
Mas as crias tu cuidou bem
Até tiveram umas feridas
Mas relaxa!
Pois já cresceram e ta tudo cem!

Sua mãe você não conheceu
Hoje seu reflexo você não lembra
Mas sua personalidade você estabeleceu
e seus olhos são firmes e me deslumbram

Você filha de índia
Sua mãe foi presa por laço
tu ficou em pedaços
mas de tua melancolia tu fez melodia

Obrigado vós querida!